terça-feira, 10 de agosto de 2010

Closed

Você já fez os contratos?
Nossa, você engordou?
Você já ligou para o cliente?
Você não vai para a academia hoje?
Você já enviou o email para o fulano?
Você vai lavar roupa hoje?
Você fez aquela planilha que eu pedi?
Você passou a minha calça?
Você pagou aquela conta?
Você não cozinha?
Você fez o depósito na minha conta?
Os relatórios já estão prontos?
Está tudo certo?
O que nós vamos comer?
Você não vai pintar o cabelo?
Arruma o cabelo.
Não vai usar maquiagem hoje?
Isso não combina com você.
Você vai trabalhar assim??
Você não vai estudar?
Você está indo na igreja?
Essa cor não combina com você.
Quantos livros você leu?


O que a gente faz com tantas pressões que sofremos todos os dias? E as cobranças?

Temos que ter as respostas sempre prontas e certas quando somos questionados? Temos que estar sempre impecáveis, bonitos, elegantes, magros, sem celulite, sem gordula localizada, sem olheiras, dispostos e disponíveis?

Temos que seguir padrões estabelecidos sei lá onde e sei lá por quem ao invés de fazermos o que temos vontade e nos deixam felizes?

Será que sempre vai existir alguém tentando exercer certo domínio sobre a gente? Será que sempre vai ter alguém tentando mostrar o que a gente deve ou não fazer? Será que sempre existirá alguém apontando nossos erros e falhas?

Quando somos crianças somos cobrados a ser educados, obedientes, inteligentes, esforçados. Entramos na escola e somos cobrados a sermos os melhores alunos, disciplinados, exemplares. Tornamo-nos adolescentes e novamente somos cobrados a sermos pessoas conscientes, cabeça boa, sábios em discernir o que é certo e errado e não dar passos em falso. Temos que saber o que queremos da vida para sempre.

Ficamos adultos. Agora somos profissionais, vamos exercer, finalmente, o papel que escolhemos. E, novamente, temos que ser os melhores no que fazemos. Graduados, pós graduados, mestres, doutores. Excepcionais.

Casamos. Vamos acumulando funções. Agora, além de pessoas de bem, conscientes, centradas e excelentes profissinais, temos que ser a esposa exemplar. A mulher forte, sempre bonita e bem cuidada, elegante, amorosa, carinhosa e disposta.

E essa cadeia não acaba nunca? É capaz de morrermos e, ainda assim, continuar sendo cobrados por algo que poderíamos ter feito e não fizemos.

O que eu queria mesmo era trancar a porta para o mundo de fora.  Ficar "Closed".  Viver a minha vida, do meu jeito, fazer o que eu quero e quando tenho vontade.

Estou cansada. Será que isso pode?

Acho que não.

Então, só me resta voltar para a minha vida real, fazer meus relatórios, planilhas, responder emails, ligar para o fulano, pagar as contas, lavar a roupa, passar a roupa, limpar a casa, pintar o cabelo, esconder as olheiras, malhar, emagrecer, ficar elegante, feliz, sorridente, disposta e de bem com a vida.



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