quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Pai.





Hoje faz 18 anos que você se foi.

Passei muito tempo da minha vida perguntando porque você foi tão cedo, me deixou pequena e não ficou aqui pra me proteger e me ensinar as coisas que eu teria que passar na vida.

Eu senti sua falta, senti falta da sua proteção e da segurança que tínhamos com você. Hoje tenho consciência de que talvez você não tenha sido um modelo exemplar de marido e pai, mas naquela época você era o meu herói e eu sabia que, estando com você, nenhum mal me aconteceria e nada me faltaria.

A sua ida deixou um vazio que, por muito tempo, nada podia preencher. As dificuldades que passamos, os problemas que enfrentamos sem você aqui me deixaram desesperadas por um longo período.

Hoje, reconheço que a sua ausência me tornou a pessoa que sou hoje. Quando você foi embora, tive que aprender a viver de outra forma. Vendo minha mãe sofrer, entendi que eu precisava ser forte para ajudá-la. Não podia me comportar de forma a deixá-la ainda mais preocupada e atordoada. E, assim, tive que amadurecer na marra! Não que tenha sido ruim, mas por muito tempo vivi trancada dentro de mim mesma.

Talvez por isso tenha me tornado assim, meio independente, pró-ativa. Tive que aprender a ir atrás daquilo que eu queria. E tive que aprender que nem tudo que eu queria eu podia. Comecei a trabalhar cedo, coisa que tenho certeza que você não permitiria, mas a necessidade me obrigou a fazer uns bicos de garçonete nos finais de semana.

Passei todos os momentos imaginando como seria se você estivesse ali naquela hora. Na minha formatura da 8ª série. No meu aniversário de 15 anos. Na formatura do colegial, na hora da valsa. Quando arrumei meu primeiro namorado, ficava imaginando a sua reação. Quando consegui meu primeiro emprego de verdade. Quando passei no vestibular. Quando casei, você não estava lá pra entrar comigo na igreja e nem ver como eu estava linda naquele dia! Mesmo que em nenhum desses momentos tenha demonstrado tristeza ou nem tenha comentado com ninguém a seu respeito, mesmo assim, você estava em meus pensamentos em todos eles.

Eu aprendi a viver com a sua ausência. Passamos muito pouco tempo juntos e tenho vagas lembranças desses momentos. Não me lembro mais da sua voz, mas seu sorriso e seu cheiro permanecem frescos na minha memória.

Eu não sei quem eu seria se você ainda estivesse aqui, mas gosto da pessoa que sou hoje. E gostaria muito que você me conhecesse assim, como sou, e que gostasse e se orgulhasse de mim e de quem me tornei.

Com a sua ausência trilhei caminhos que, talvez se você ainda estivesse aqui, eu não percorreria. Vivi momentos que seriam diferentes com a sua presença. Mas aprendi a gostar da história que construí na sua falta. Não que não tenha sofrido. Não que não tenha sentido sua falta muitas vezes. Mas acho que meu coração aprendeu a viver sem você. Ele, depois de algum tempo, finalmente entendeu que você não estaria mais aqui pra me dar colo e paparicar, que não teria mais o chamego e o mimo da “menininha do papai”.

Enfim, 18 anos se passaram e como tudo na vida, passa. A saudade não dói mais. Restaram apenas lembranças e um mundo de possibilidades, pois tenho que conviver sempre com o “se”. Se você estivesse aqui, se você visse, se você ouvisse, se, se, se...

Eu não sei porque a gente precisa morrer. Por mim, ficaríamos aqui, desse lado da vida, para sempre. Seríamos imortais e teríamos todo o tempo do mundo para fazer as coisas que a morte interrompe em nossas vidas.

Se um dia a gente se encontrar de novo, a gente senta num lugar bem gostoso, pode ser de frente para o mar se você gostar, e conversa horas a fio. Quero te contar tudo que me aconteceu na sua falta, quero que você me conheça de novo e me ame como eu sou. Quero ouvir sua opinião, saber o que você pensa, conhecê-lo de novo também. E quem sabe, aí do outro lado da vida, a gente tenha tempo de sermos pai e filha outra vez. Mas agora, para sempre.

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